Dados do Trabalho


Título

Alerta de risco associado ao reuso de brocas automáticas de craniotomia: relato de caso

Introdução

As brocas de craniotomia são dispositivos perfurocortantes utilizados na trepanação do crânio para permitir que parte do osso seja removido e então o acesso ao encéfalo a fim de possibilitar a realização da cirurgia ou manipulação da área.1
Estes materiais estão disponíveis em aço inoxidável e possuem formato característico, apresentados em diversos tamanhos, formatos de ponta e comprimentos. Há opções desmontáveis e reprocessáveis e opções de uso único, não desmontáveis e com reprocessamento proibido.
A resolução 2606/2006 traz alguns pontos a serem observados em seu artigo 4º para definir se um produto pode ser considerado passível de reprocessamento:
“I - O produto não consta da lista negativa estabelecida na Resolução - RE n° 2.605, de 2006, e não traz na sua rotulagem o termo “PROIBIDO REPROCESSAR”;
II - A análise do custo-benefício (custo do produto, volume esperado de reprocessamento, custo do processo de trabalho, dos materiais e despesas gerais para o reprocessamento, riscos e consequências da falha do produto e risco ocupacional) justifica o reprocessamento do produto;
III - A tecnologia disponível para o reprocessamento do produto é compatível com as propriedades do produto; “. 2
O material avaliado não se encontra na relação de materiais de uso único da resolução 2605/2006, porém traz a informação no rótulo de “proibido reprocessar”. Embora a justificativa do reuso seja o custo do material, os fabricantes e a legislação trazem a informação de que este material não deve ser reprocessado. Além disso, as práticas recomendadas de guidelines nacionais e internacionais reforçam que o processamento deve seguir as recomendações dos fabricantes.3
Embora não seja uma prática recomendada esta ainda é evidenciada, e diante disso o presente estudo buscou demonstrar o risco para alertar os usuários.

Objetivo

Relatar dois casos de reuso de brocas de craniotomia de uso único.

Método

Estudo de relato de caso de 02 amostras de hospitais da região sul do Brasil. Análise realizada no segundo semestre de 2022. Inicialmente foi feita análise documental e estrutural do produto. Posteriormente foi realizado corte das brocas, que foi realizado pela equipe de engenharia clínica com serra de aço e análise por microscopia de superfície com aumento de 1000 vezes foi realizada pois dois dos pesquisadores com microscópio digital portátil.

Discussão e Conclusões

Ao ser realizada a análise estrutural do dispositivo, observa-se que este não é desmontável e que possui regiões em que não é possível realizar fricção e tampouco inspeção visual da efetividade da limpeza.
Quando realizada a análise de brocas de craniotomia reutilizada por longo período, observa-se áreas de deposito de matéria orgânica (osso e tecidos) além de áreas de desgaste do aço e possível depósito de material inorgânico utilizado na limpeza e lubrificação do material.

Conclusões

Embora ainda seja encontrada esta prática, alertamos que não há evidência de efetividade de reprocessamento da broca automática de craniotomia e esta prática deve ser descontinuada.
É importante ter clareza que o risco da contaminação por matéria orgânica, proteína priônica e compostos inorgânicos pode trazer grandes riscos para a saúde do paciente, e este tipo de prática favorece este risco, onde muitas vezes não é direcionado o olhar para monitorar a evolução destes indivíduos.

Palavras-chaves

Esterilização, Desinfecção, Dispositivos Médicos.

Referências

1. Jiménez-Martínez, E., Cuervo, G., Hornero, A. et al. Fatores de risco para infecção de sítio cirúrgico após craniotomia: um estudo de coorte prospectivo. Antimicrob Resist Infect Control 8 , 69 (2019). https://doi.org/10.1186/s13756-019-0525-3
2. BRASIL, Ministério da saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Resolução RE Nº. 2.606, de 11 de agosto de 2006. Dispõe sobre as diretrizes para elaboração, validação e implantação de protocolos de reprocessamento de produtos médicos e dá outras providências. Diário Oficial da União 2006; 15 fev.
3. Associação Brasileira de Enfermeiros de Centro Cirúrgico. Recuperação Anestésica e Centro de Material e Esterilização (SOBECC). Diretrizes de práticas em enfermagem cirúrgica e processamento de produtos para a saúde. 8ª ed. São Paulo: SOBECC; 2022.

Área

Prevenção e Controle de Infecção Relacionada à Assistência à Saúde

Autores

JOÃO PAULO BELINI JACQUES, Nathanye Crystal Stanganelli Caus, Murilo Venâncio Gaiowski, Cibele Cristina Tramontini Fugantti